Antão e quê...?

NFTunes

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Gabriel e Ricardo Antão

NFTunes

 

Já falámos anteriormente da imensidão de informação com que lidamos habitualmente. Além desses referidos temas, têm surgido recentemente novas iniciativas e possibilidades, que será pertinente conhecer. Afinal, o conhecimento é essencial para entendermos o nosso lugar no mundo.

Um dos temas atuais e incontornáveis é o das blockchain, que têm a sua fama associada à polarizante Bitcoin. Não vamos aqui falar de investimentos financeiros nem de especulação ligada a criptomoedas ou criptoativos, muito menos explicar estes conceitos, uma vez que com poucos cliques o poderão fazer. Queremos apenas indicar que há novas possibilidades que se abrem para as artes, movidas por um sistema que almeja primeiramente a descentralização financeira.

 

Novas tecnologias e possibilidades geram sempre receios, e estes fazem eco nas mais variadas notícias que focam sobretudo os saques a contas de criptoativos. Existem argumentos para acreditar que estas tecnologias são seguras, por todos os movimentos serem rastreáveis, mesmo quando os ativos tentam ser misturados para complicar a sua localização. Independentemente dos debates que se levantam neste tema, nem sempre as melhores notícias destas tecnologias são partilhadas, e há muito boas em português. É o exemplo do nosso amigo dos tempos filarmónicos Marco Barbosa que, com a sua equipa, tem sido um empreendedor com o seu projeto inicial eSolidar * , e também tem ido mais longe com o ImpactMarket: este projeto aproveita um sistema de finanças descentralizadas para levar a ajuda financeira às comunidades que mais precisam, sem que as doações se percam pelo caminho.

 

Nesta crónica queremos falar de uma nova tendência, os NFTs (non-fungible tokens). Para quem não esteja familiarizado com o termo, algo fungível (termo usado em direito e economia) é algo que pode ser trocado por outro do mesmo género. Talvez seja mais fácil com um exemplo: uma moeda de 1€ é fungível, isto é, pode ser trocada por outra idêntica (cópia) sem perder o valor; contrariamente, se a Mona Lisa (por exemplo) for trocada por uma cópia não mantém o valor, logo não é fungível.* Assim, um NFT será algo único, algo que lhe dá exclusividade e uma valorização por vezes descomunal*, a qual veio trazer algum ceticismo ao mundo da arte em abraçar tais projetos. No entanto, com uma pesquisa um pouco mais cuidada, podemos concluir que os NFTs não são vendidos unicamente por preços exorbitantes: a maior parte deles ronda os dois dígitos de valor, e estão maioritariamente associados à indústria dos videojogos.

 

Existem também exemplos de tentativas de introduzir a música Clássica nestes novos terrenos. Um primeiro exemplo é o da Orquestra Sinfónica de Dallas, cujo diretor artístico Fabio Luisi promoveu a entrada da sua orquestra no mundo das blockchain, através dos referidos NFT. * Outro exemplo inclui uma iniciativa vienense, baseada na música de Mozart. 6 Estas tentativas ecoam nas palavras de Joseph Lubin, cofundador da Ethereum, que a certa altura fala da importância de uma estrutura segura e descentralizada como imperativa para o bem-maior social:

“Uma fundação de confiança possibilita uma nova infraestrutura financeira descentralizada, permite que o resto do mundo redesenhe os seus sistemas nessas fundações. E NFTs irão ser enormes. A capacidade de representar conteúdo digital, a capacidade de criar arte e interligar diretamente com os consumidores da arte. Sem intermediários a ficar com muito do valor dessa transação ou a censurar ou a controlar as coisas de forma imprópria. Vai transformar os conteúdos, a criatividade e a criação de arte sob todas as suas formas. Essencialmente vai transformar a forma como pensamos que nos vemos no mundo.” *

 

É verdade que os direitos do artista podem ser recompensados a cada vez que a sua obra de arte é vendida e revendida (há a opção de incluir esta cláusula no NFT) e isto poderá dar maior justiça ao artista aquando da valorização do seu trabalho. Contudo, com alguma pesquisa vemos que isto poderá não acontecer se o NFT não for (re)vendido na mesma plataforma em que o artista inicialmente o vendeu. Os NFTs na música podem ser explorados como singles ou álbuns inteiros, bem como um booklet ou um vídeo de gravações, por exemplo. Também devemos referir que a criação e venda de um NFT poderá ainda dar algum trabalho, bem como acarretar alguns custos dependendo de onde seja efetuado, e também que o público-alvo poderá ainda não estar familiarizado com este tema, por muito simples e intuitiva que seja a criação de uma carteira de criptoativos. Finalmente, temos que acrescentar que o próprio J. Lubin afirma que ainda serão necessários alguns anos até esta tecnologia ser completamente aceite e independente.

 

Em jeito de resumo: há um grande número de questões em volta desta tecnologia e da sua aplicação nas artes, em especial na música. Provavelmente ficaram a questionar-se se esta será uma abordagem de futuro para a música Clássica (e para os seus artistas). Nós também nos questionámos e ainda não temos uma resposta. Apenas estamos certos de querer continuar a saber mais sobre as possibilidades que se abrem, e de ver como o futuro pode ser realmente positivo para a música e os músicos.

 

 

* https://community.esolidar.com/pt

* https://www.impactmarket.com/pt-BR

* Podem encontrar uma explicação simplificada neste curto vídeo: https://twitter.com/cleoabram/status/1460273464502276098

* Podem encontrar alguns exemplos aqui: https://www.theverge.com/22310188/nft-explainer-what-is-blockchain-crypto-art-faq

* https://artandseek.org/2021/07/28/dso-goes-the-nft-blockchain-route-with-the-met/

* https://async.art/featured/mozartbeats

https://www.dinheirovivo.pt/economia/cofundador-da-ethereum-portugal-esta-a-liderar-a-adocao-de-financas-descentralizadas-14250821.html

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