Antão e quê...?

Festivais

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Gabriel e Ricardo Antão

  • Ricardo e Gabriel Antão

Agosto é tipicamente um mês de férias, ótimo para recarregar energias e para reflexão. Mas este mês também tem sido sinónimo de festivais e estágios, especialmente nos últimos anos. Estes eventos são-nos particularmente queridos, tanto pela influência que tiveram na nossa formação, como pelas oportunidades que atualmente nos proporcionam.

 

Não querendo acusar a idade em demasia, é com muita alegria que vemos o aumento do número de festivais e estágios, visto que ainda recentemente as ofertas escasseavam e não era fácil participar em eventos fora do país. De facto, além da pouca oferta a nível nacional, era extremamente dispendioso participar em iniciativas no estrangeiro, nas quais se conseguia trabalhar com alguns músicos que não vinham ao nosso país, mas onde só o curso tinha um custo por vezes quatro vezes superior ao dos cursos em Portugal.

 

Sendo oportunidades com objetivos ligeiramente distintos (os festivais parecem-nos mais destinados à evolução na performance individual, e os estágios mais vocacionados para a performance coletiva, sendo ambos importantes para o desenvolvimento musical), partilham uma importante componente social: permitem aos participantes conhecer músicos de outras regiões e, igualmente importante, estabelecer contactos e dar-se a conhecer.

 

Estes eventos foram basilares na nossa formação, seja por nos permitir conhecer músicos de renome (com os quais acabámos por ir estudar, fruto do contacto próximo que os festivais e masterclasses permitem), seja por nos dar a oportunidade de tocar em orquestra e banda sinfónica, proporcionando experiências que nos agradaram e que ajudaram a nortear as nossas escolhas profissionais. E claro, conhecemos também músicos e pessoas incríveis, com os quais travámos forte amizade.

 

Refletindo sobre as várias ofertas disponíveis para os estudantes, ficamos ligeiramente surpreendidos com a falta de adesão a algumas iniciativas, que oferecem oportunidades únicas aos alunos por módicas quantias (tendo apenas em conta o número de professores e concertos oferecidos, e sem entrar sequer em comparações quanto ao custo de iniciativas similares noutros países). É certo que, tendo em conta a conjuntura dos últimos anos, ninguém espera que todos os alunos consigam estar presentes em todos os eventos, não só devido à questão financeira como também devido à sobreposição de festivais/estágios, fruto da maior oferta; mas também podemos referir o crescente número de alunos, que poderia ser uma justificação para um eventual preenchimento das vagas existentes.

 

Em conversa com diversos alunos e aspirantes a profissionais, nota-se um certo desinteresse/falta de motivação em participar nestas iniciativas, que podem ser tão preponderantes para o percurso musical (no futuro, com uma vida profissional menos flexível, será impossível aproveitar todas estas oportunidades). E, mesmo quando participam, há casos de alunos que perdem oportunidades de aprendizagem por estarem mais atentos ao telemóvel que ao que o professor está a transmitir. Claro que as nossas próprias aulas são sumamente importantes, mas também podemos aprender muito com as aulas dos colegas; e ainda que estes eventos nos permitam mostrar o nosso trabalho, o foco não deve ser esse, mas sim aprender e crescer.

 

Quando os casos de desinteresse se tornam mais frequentes, aumenta também a desmotivação por parte de quem organiza os eventos: afinal, para quê gastar tempo e energia, despender mais horas na organização e, até, dinheiro do próprio bolso, para depois não ter inscrições suficientes para tornar os eventos autossuficientes? É desgastante, sem dúvida.

 

Não estamos a querer ser derrotistas. Há vários alunos extremamente motivados para participar e aprender, que bebem avidamente os conhecimentos que lhes são transmitidos. E que terminam os estágios motivadíssimos e com muita vontade de pôr em prática o que aprenderam. São estes os alunos que dão força a quem organiza, e que tornam estas oportunidades em algo único e memorável.

 

E são também esses que, no futuro, irão ter ótimas experiências e conhecimentos para transmitir.

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