Música de Câmara

Duo Appassionato - O piano mais que um mero acompanhador

 — 

Pedro Travanca

Mais do que uma parte «acompanhadora», o piano assumir-se-á com uma parte «camerística» onde adicione, explore e desenvolva as ideias musicais presentes no texto.

 

O repertório erudito musical para teclas apresenta-se hoje com uma variedade de timbres e estilos diferentes exploradas pelos mais abrangentes compositores. Desde Alessandro Scarlatti a Johann Sebastian Bach ou de Frédéric Chopin a Franz Liszt, o instrumento de corda percutida goza de uma riqueza cultural e social muitas vezes cobiçável. Na linha de pensamento musical e, possivelmente devido à sua versatilidade, a corda percutida, mais concretamente o piano, passou a ser utilizado como a ferramenta acompanhadora principal dos instrumentos musicais melódicos.


Todavia, o seu acompanhamento não invalida a adição da sua musicalidade ao modesto grupo de música de câmara. Quer seja um violino com um piano, ou um clarinete com um piano, o pianista acompanhador não deve ser uma mera «gravação ao vivo» que o músico melódico desfrua descuidadamente. Pelo contrário, a sua divícia musical e riqueza harmónica devem ser estudadas diligentemente pelo grupo no qual se insere, pois é na sua panóplia de notas onde, quase sempre, se encontra o coração da estrutura e da frase musical.

 

Seguindo este raciocínio, qualquer obra para um instrumento musical que inclua uma parte «acompanhadora» para o piano poderá e deverá ser estudada com um novo olhar sobre a partitura musical. Mais do que uma parte «acompanhadora», o piano assumir-se-á com uma parte «camerística» onde adicione, explore e desenvolva as ideias musicais presentes no texto. É justamente com esta conceção de música que o Duo Appassionato apresenta o seu repertório musical.

 

O Duo Appassionato é um grupo de música de câmara constituído pela pianista Maria João Gomes e pelo fagotista Pedro Travanca, ambos estudantes na Universidade do Minho, na cidade de Braga. Embora o grupo tenha emergido em dezembro de 2023, a aproximação destes dois músicos já advém desde 2019. Mais concretamente, ter-se-ão conhecido no seu segundo ano da Licenciatura em Música e, posteriormente, terão iniciado o seu namoro. A mistura entre «trabalho» e o relacionamento terá sido o principal fator para o Duo não ter iniciado a sua atividade mais cedo. No que concerne o seu repertório, o grupo foca-se, sobretudo, em obras musicais do século XIX e XX, nomeadamente com compositores franceses como Camille Saint-Saëns, Paul Jeanjean, Gabriel Grovlez, entre outros.

 

De facto, a música francesa do século XX ocupa um lugar importante na escrita para esta formação de fagote e piano. A forma como explora melodias com uma leveza e perfeição muitas vezes inigualáveis torna-a particularmente aliciante, assim como é aliciante observar a sua evolução no fagote, instrumento esse que evoluía concomitantemente com a escrita musical desse mesmo período, através do fagote francês e do fagote alemão. Os compositores sabiam que a variante francesa do fagote era mais hábil tecnicamente, enquanto a versão alemã possuía maior projeção sonora. Atualmente, a «batalha» foi ganha pelos alemães e o fagote de «Sistema Heckel» - o nome oficial do sistema alemão, tornou-se a norma mundial.


Este é um dos principais motivos pela escolha do repertório do Duo, na sua grande maioria, de origem francesa. É um repertório abastado musicalmente, mas invulgarmente ouvido nas salas de concerto ou nos auditórios. Assim, torna-se especialmente atrativo escutar obras musicais originalmente pensadas para o fagote francês no seu irmão alemão. Felizmente, a tradição francesa mantém-se ativa em alguns conservatórios desse país e cada vez mais, este tipo de repertório é trazido à ribalta, quer nacionalmente, quer internacionalmente, quer em sistema francês, quer em sistema alemão.

 

Contudo, o repertório conhecido no círculo de fagotistas nem sempre implica o conhecimento generalizado da obra musical pela população, seja ela formada musicalmente ou não. Prova disso são os prémios ganhos pelo Duo Appassionato no seu primeiro mês de atividade. No total, o aglomerado musical foi galardoado com sete premiações internacionais distintas: o Terceiro lugar na categoria «Período Romântico» e o Segundo Lugar na categoria de Música de Câmara, ambas pertencentes ao concurso Classical Stars International Music Competition (Varsóvia, Polónia); o Primeiro Lugar e o «Prémio Especial de Musicalidade Marcante» no concurso VanBach International Music Competition 2023 (Londres, Inglaterra); o Terceiro Lugar na categoria de Música de Câmara, no concurso International Artists Competition (Viena, Áustria); o Segundo Lugar na categoria de Música de Câmara no 2nd Servaas International Music Competition (Amsterdão, Países Baixos). Foi-lhes também atribuído, por unanimidade, o 1° Prémio no Concurso HarmoniClassics Music Competition, em Paris, na França.

 

Devido às suas premiações, o grupo foi ainda alvo de várias notícias locais e nacionais, destacando-se em diversos jornais, físicos ou online, como o «Diário do Minho», «Correio do Minho», «O Gaiense», «Opinião Pública», «FamaRadioTV» e até em jornais internacionais, como é o caso do «Bom Dia França». Mais recentemente, o grupo foi selecionado pela equipa de produção musical «The Village VNF» para a gravação profissional de músicas em estúdio, juntando-se a tantos outros artistas que por lá passaram, como Terra Batida, Matilde Batista, Sofia Machado, The Cityzens, Sandy Kilpatrick, Ré Menor ou Ibertrio.

 

Para o grupo, a próxima etapa serão tantos outros concertos, audições e, possivelmente, outras premiações em concursos. Para já, encontram-se focados em preparar acuradamente o repertório a ser trabalhado e apresentado brevemente. Para eles, o mais importante é o trabalho em conjunto, a emoção de tocar em palco e, sobretudo, o sentimento de camaradagem um para com o outro. Senão fossem estes motivos, não seriam conhecidos como o «Duo de Apaixonados».

 

Podem acompanhar o nosso trabalho no Instagram (duo.appassionato) ou no Facebook (Duo Appassionato).

 

 

Maria João Gomes


Maria João Gomes é pianista desde os 6 anos de idade, tendo estudado com a Professora Cristina Lima no CCM (Centro de Cultura Musical). Durante o seu percurso, foram-lhe atribuídos os prémios de «Melhor Aluna» e «Melhor Instrumentista». Posteriormente, estudou com o Professor Luís Pipa na Universidade do Minho, recebendo a Bolsa de Excelência da Universidade do Minho pelo seu aproveitamento académico. Simultaneamente, frequentou aulas de canto com o barítono Pedro Telles, juntando-se assim ao Coro da Ópera na Academia e na Cidade. Por este motivo, desenvolveu uma paixão pelo canto lírico, o que a levou a ingressar na classe de canto do Professor Rui Taveira, na Licenciatura em Música - Variante de Canto Lírico, na ESMAE (Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo).

Atualmente, Maria João Gomes é professora de piano na Academia de Música Fernando Matos, nas Taipas; pertence ao grupo de música de câmara Katnus Duo, juntamente com o pianista Pedro Ferreira; frequenta o Mestrado em Ensino de Música – Área de Especialização em Instrumento na Universidade do Minho e a Licenciatura em Canto Lírico na ESMAE.

 

Pedro Travanca


Pedro Travanca iniciou os seus estudos musicais aos 10 anos de idade, na classe da Prof. Cláudia Torres na EMP (Escola de Música de Perosinho), tendo prosseguido os seus estudos musicais na classe do Professor Roberto Erculiani, também na Universidade do Minho. Terminou o seu Mestrado em Ensino de Música com média de 18 valores e ao seu Relatório de Estágio foi-lhe atribuída a classificação de 20 valores, intitulado «O papel da autoavaliação para o desenvolvimento da autonomia de alunos de Fagote». Tocou com várias orquestras jovens (como a Orquestra Xove Vigo 430, aCISO – Orquestra Sinfónica Internacional de Ceuta, a OJEX – Orquestra Jovem da Extremadura, a OJSG – Orquestra Jovem da Sinfónica da Galiza e a Animato Chamber Orchestra, sediada na Áustria) e orquestra profissionais, como a Orquestra da Costa Atlântica, a Orquestra Clássica do Centro, a Orquestra Filarmonia das Beiras e a Orquestra de Guimarães.

Atualmente, Pedro Travanca é Professor Assistente Convidado de Fagote no Departamento de Música da Universidade do Minho, Solista B na Orquestra de Guimarães, Reforço na Orquestra Filarmonia das Beiras e encontra-se a participar ativamente em audições, concursos e concertos.

Artigos sugeridos