Guilherme Sousa vence PJM em Oboé

"A quantidade e qualidade de estudantes de música erudita em Portugal nunca foi tão alta como hoje".

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Sandra Bastos

Guilherme Sousa já tinha estado na final do Prémio Jovens Músicos, nível superior, onde foi galardoado com o 3º Prémio ex-aequo. No ano passado concorreu em Música de Câmara e este ano, finalmente, venceu o 1º Prémio, nível superior, de Oboé.

“Uma das principais razões que me levaram a participar neste Concurso foi o vasto leque de oportunidades que o PJM proporciona aos vencedores: desde a possibilidade de fazer recitais nas melhores salas de espectáculo por todo país até à garantia de presença no Concerto dos Laureados a solo com uma das melhores Orquestras do país”, diz.

 

“muita paciência, organização, disciplina”

Para trás ficou “um processo delicado que requer muita paciência, organização, disciplina e, claro, suporte e tolerância por parte das pessoas que me rodeiam (família, namorada, amigos, etc.)”. Para o jovem oboísta, “preparar a prova e sacrificar tempos de lazer, como as idas ao bilhar, passeios ao ar livre ou jogos de basquete, são os momentos mais difíceis da competição. Claro que também a espera pelo resultado de uma prova pode ser bastante inquietante, mas aí a dificuldade é mais para o Júri do que para os concorrentes”.

 

Porém, há imensas compensações: “quando se trabalha uma obra intensivamente e se descobre elementos na música que nunca antes se tinha reparado, a sensação de que o trabalho está a dar frutos e que a música fica mais clara e interessante é muito enriquecedora. Também o momento no final da prova, quando quase tudo correu como planeado, é já quase uma sensação de vitória”.

 

“Ganhar o Prémio Maestro Silva Pereira seria a cereja no topo do bolo”

Guilherme Sousa organiza o estudo em três fases: ““Limpeza” das dificuldades técnicas do instrumento e das obras a tocar; estudo da obra em termos estilísticos, estruturais, harmónicos, tendo em conta o contexto biográfico do compositor; sistematização das ideias musicais definidas através de várias simulações de prova”.

 

O próximo passo é preparação para o concerto dos laureados, onde vai estar em competição o Prémio Maestro Silva Pereira que seria, para Guilherme, “a cereja no topo do bolo”: “certamente iria aumentar ainda mais as possibilidades de mostrar o meu trabalho. É importante também porque iria ser uma ajuda para o suporte de despesas de formação no futuro”.

 

“os jovens músicos de Portugal prevêem um futuro muito incerto e com poucas possibilidades”

Vencer o PJM vai alargar as possibilidades de apresentar o seu trabalho. “Mas vai caber a mim aproveitar essas oportunidades e aprender com elas para iniciar uma carreira com qualidade e com perspectivas de crescimento no futuro”, sublinha.

 

“O PJM tem dado muitas oportunidades a jovens artistas para mostrarem o seu trabalho em vários pontos do país. Muitos dos melhores músicos portugueses que fizeram/fazem uma carreira fantástica em Portugal e no estrangeiro, têm também no seu currículo vitórias neste Concurso”, acrescenta, lembrando que “é um projecto muito bom e importante para impulsionar os jovens músicos de Portugal que, infelizmente prevêem na sua vida e na sua carreira um futuro muito incerto e com poucas possibilidades”.  

 

“a quantidade e qualidade de estudantes de música erudita em Portugal nunca foi tão alta”

Um futuro incerto numa altura em que “a quantidade e qualidade de estudantes de música erudita em Portugal nunca foi tão alta. A qualidade e quantidade de professores de música portugueses cresceu de forma extrema. No entanto a escassez de oportunidades faz com que grande parte dos artistas que procuram a vertente de performance “fujam” para países onde o apoio financeiro para as artes é maior e com mais respeito pelo seu trabalho”.

 

Não admira, assim, que hoje se veja “cada vez mais jovens músicos com muita qualidade a conseguir oportunidades de emprego em orquestras profissionais no estrangeiro. Alguns também fazem carreiras em música de câmara e a solo com concertos regulares, representando de forma impressionante o país”.

 

E os que ficam cá? O que os espera? “Os que decidem estabelecer-se em Portugal, no entanto, terão provavelmente de se dedicar à vertente pedagógica de forma a poderem fazer uma vida sem extremas dificuldades financeiras. Caso tenham um grupo de música ou se apresentem a solo é muito importante que aprendam a manusear bem o reportório que tocam e a forma como se publicitam”.

 

Ainda assim, Guilherme Sousa louva e admira “a vontade que os músicos portugueses ainda têm de criar projectos de divulgação de compositores e instrumentistas e a forma miraculosa como por vezes as coisas se concretizam quase sem apoios financeiros”.

 

“nem sempre quis ser músico”

A terminar o Mestrado em Performance em Lübeck (Alemanha), Guilherme Sousa confessa que nem sempre quis ser músico: “Estudei até ao último ano de escola secundária com o objectivo de ir para Bioquímica ou Biomédica e tinha notas suficientemente altas para frequentar estes cursos. O gosto pela música e a curiosidade de conhecer este mundo prevaleceu, portanto decidi concorrer também às escolas superiores nesta área”.

 

No caminho que optou, foi fundamental o apoio da família e professores: “A minha família por ter tido a coragem de suportar a minha escolha por um percurso artístico com futuro incerto; os meus professores por terem tido muita paciência e por nunca terem perdido a esperança e vontade de me transmitir os seus conhecimentos”.

 

Mais duas pessoas tiveram também uma influência fundamental: a minha namorada Marei Janic, que suportou pacientemente, em casa, horas e horas de estudo intensivo e repetitivo apoiando-me a todo o momento, e o meu amigo Pedro Costa, que preparou de uma forma extraordinária a parte de piano para cada uma das fases do concurso, mesmo tendo já um horário extremamente ocupado”.  

 

“aprender o mais possível em cursos com conceituados professores”

Para o futuro, Guilherme deseja ter uma carreira artística que lhe proporcione concertos com regularidade de maneira a poder, para além da vida profissional, “formar uma família e sustentá-la com uma boa qualidade de vida”. Para isso, vai concorrer a academias de orquestra e procurar “aprender o mais possível em cursos com conceituados professores”.

 

Para já, vai dedicar-se a preparar os recitais do PJM e divulgar os grupos de música de câmara Duo Concertante com Piano e Duo Confesso com Guitarra Clássica. “Gostaria de poder continuar a desenvolver a qualidade das obras que no momento tenho preparadas, introduzindo sempre novo reportório com qualidade e com sonoridades interessantes”, afirma.

 

Guilherme Filipe Costa e Sousa

Nasceu a 1990 em Coimbra. Iniciou os seus estudos musicais com 5 anos com o Maestro Virgílio Caseiro.Iniciou o primeiro ano do Conservatório de Música de Coimbra, sob a orientação em oboé de Pedro Ribeiro e a partir do segundo ano até ao final com Francesco Sammassimo. Terminou a licenciatura de música na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, Porto, sob a orientação de Ricardo Lopes.

Prossegue os seus estudos em Mestrado em Performance em Lübeck (Alemanha), na Musikhochschule Lübeck, na classe de Diethelm Jonas. É vencedor de alguns concursos como solista e em música de Câmara:1º Lugar no PJM, nível Solista Superior: 3º Lugar no PJM, no nível Solista Superior; 1º Lugar no “II Concurso Nacional de Instrumentos de Sopro de Terras de La-Sallete”, categoria Júnior; 1º lugar no concurso de música de Câmara “ConCursos”, em Aveiro, Categoria Superior, em Duo com o Pianista Pedro Costa; 1º lugar no III Concurso Interno de Música de Câmara da “Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo” com Quinteto de Sopros da ESMAE; Vencedor do “Prémio Helena Sá e Costa”, oferecido pela Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo

Foi membro da “European Union Youth Orquestra”, tendo realizado, durante o estágio de Verão de 2011 uma digressão pela Europa. Com a orquestra teve a oportunidade de tocar em famosas salas de concerto como “Concertgebouw”, em Amestardão, “KonzertHaus”, em Berlim, “Grafenegg”, em Krems-land, entre outras, sob a orientação dos maestros Jaap van Zweden e Vladimir Ashkenazy.

É músico em duo com a guitarrista clássica Marei Janic  para a Fundação “Live Music Now” criada por Lord Yehudi Menuhin e para a Fundação Musikerkennen com  as quais faz concertos regularmente.

Frequentou cursos de aperfeiçoamento com: Thomas Indermuhle, David Walter, Pedro Ribeiro, Diethelm Jonas, Washington Barella, Cristian Wetzel, Omar Zoboli, António Saiote, Nick Deutsch, entre outros.

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