João Miguel Silva, vencedor PJM Oboé

“O mais importante é poder desfrutar o prazer de fazer boa música”

 — 

Sandra Bastos

  • João Miguel Silva
  • João Miguel Silva
  • João Miguel Silva
  • João Miguel Silva
  • João Miguel Silva

Filho de peixe sabe nadar, é caso para dizer em relação a João Silva, vencedor do PJM em Oboé, nível médio. O pai é clarinetista Sargento-Chefe na Banda da GNR e a irmã, Patrícia Silva, estuda Clarinete na ESML. Em casa, o tema principal de conversa é a música.  Não admira que quando foi estudar para o Conservatório Nacional, aos 13 anos, já sabia que queria ser músico. E sabia também das exigências da profissão.

 

 

o PJM é uma boa rampa de lançamento para o futuro”

É já um veterano do PJM, sobretudo em Música de Câmara, categoria onde arrecadou vários prémios. “Concorri três vezes em Música de Câmara e fui sempre premiado: a primeira foi em 2012 com o Trio C3PO nível médio, obtivemos o 2º Prémio; em 2013, com o Quarteto Oboé Concórdia, novamente nível médio, obtivemos o 3º Prémio e, este ano, com o Quinteto Klaue no nível Superior, obtivemos o 2º Prémio”, conta.

Defende a importância dos concursos, não apenas pelos prémios, mas “sobretudo pela preparação que é feita antes e durante o concurso”. Neste sentido, “o PJM é uma boa rampa de lançamento para o futuro, tal como já foi e continua a ser para muitos jovens músicos.”

 

 

“o mais importante é aproveitar o concerto e a oportunidade de tocar o Concerto de Mozart com a Orquestra Gulbenkian”

 

“Obviamente que um prémio é sempre bom, porque traz reconhecimento e hoje em dia é muito importante sermos lembrados, também para ter oportunidades. E é bom recordar que o Concurso PJM é o concurso mais importante em Portugal e bastante divulgado por todo o país”, sublinha.

Destaca ainda o nível excelente dos colegas vencedores: “Tive oportunidade de ouvir tocar alguns dos vencedores, tais como o Gonçalo Lélis de violoncelo e o Bruno Santos de trompete. Já conheço o Pedro Côrte-Real há alguns anos, visto que estudámos juntos no Conservatório Nacional de Lisboa e sempre tive muita admiração pelo trabalho dele. E claro, o Lourenço Sampaio que tive oportunidade de conhecer durante o concurso e cuja experiência musical já fala por si”.

O Prémio Maestro Silva Pereira não era a sua prioridade: “sinto que o mais importante é aproveitar o concerto e a oportunidade de tocar o 1º andamento Concerto de Mozart com a Orquestra Gulbenkian”. Aproveitar ao máximo esta oportunidade, sem esquecer o facto de ser dirigido pelo maestro Jean-Marc Burfin,  que considera “um excelente maestro”.

 

 

“tive que me focar na precisão e no mínimo detalhe possível”

 

Não há segredos para vencer, apenas um “método de trabalho rigoroso” e seguir as orientações dos professores. “Obviamente que para esta prova tive que me focar na
precisão e no mínimo detalhe possível, essencial para a preparação de qualquer concurso”, diz. Estabelece objectivos, mas foca-se “em aprender o
máximo e evoluir a cada dia que passa”.

Difícil de passar é a ansiedade e ultrapassar o desgaste típico das competições: “Creio que a espera para mim e o pouco descanso são sempre dos momentos mais difíceis de uma competição. Só quero fazer a minha prova para poder respirar e descansar um pouco”.

 



O suporte dos professores, família e amigos

 

A estudar há dois anos na Hochschule für Musik und Tanz, em Colónia, na Alemanha, João Silva confessa que a ajuda dos professores Óscar Viana e Luís Marques foi fundamental:  “Foram eles que me formaram em Portugal, por isso tenho, e terei, sempre um agradecimento profundo, pois foi com eles que dei as minhas primeiras caminhadas”.

E, claro, o apoio incondicional do seu actual professor Christian Wetzel: “ajuda-me em
tudo o que preciso e é, sem dúvida, um dos melhores professores a nível mundial. Aliás, posso dizer que muito do que conquistei nestes últimos dois anos em Colónia, e fora desta cidade, foi graças ao meu professor”.

Outro suporte igualmente importante tem sido a família, os pais, a irmã, a namorada e o amigo Christopher Koppitz. “Posso dizer que me ajudaram a evoluir muito como músico e como pessoa”, sublinha. Os seus amigos em Portugal também têm estado “sempre presentes”.

 

 

“O mais importante é poder desfrutar o prazer de fazer boa música”

 

Na sua ainda curta carreira, destaca a participação na Orquestra de Jovens do Mediterrâneo, onde teve a oportunidade, juntamente com a sua irmã, de tocar sob a direçcão do Maestro Gian Andrea Noseda, o bailado Romeu e Julieta de Prokofiev. “Este é, sem dúvida, um momento que não vou esquecer”, afirma.

Vai “continuar a aproveitar as aulas em Colónia” e, no próximo ano, vai concorrer a academias de orquestra na Alemanha. “Mas eu prefiro pensar dia após dia em vez de pensar no futuro. Obviamente tenho objectivos para o meu futuro, mas prefiro não ficar obcecado e perder tempo a pensar no que pode acontecer “, diz.

Porém, admite que um dos seus sonhos é tocar numa grande orquestra: “Uma orquestra que seja forte em todos os aspectos, que tenha bom ambiente - é uma coisa muito difícil de encontrar em algumas orquestras hoje em dia. O mais importante é poder desfrutar o prazer de fazer boa música”.

 

 

“as pessoas têm tendência para concorrer para fora do país principalmente pela falta de oportunidades”

 

Pode-se fazer boa música Portugal, aliás, tem a certeza que se faz. Mas há outras vantagens em estudar no estrangeiro: “deu-me muitas mais oportunidades de fazer música em diferentes sítios, de conhecer novas culturas e novos professores, ouvir muitos e variados concertos todas as semanas”. 

O problema e Portugal é a falta de oportunidades: “há escolas muito boas, mas as pessoas têm tendência para concorrer para fora do país principalmente pela falta de oportunidades ou simplesmente porque se tem uma admiração por um professor, o que também é uma boa razão”.

 

 

“No estrangeiro ficam admirados com a nossa energia e dedicação e pelo perfeccionismo”

 

“Eu considero que Portugal é um país com muito potencial, temos produzido grandes músicos em todos os instrumentos e a tendência é para aumentar cada vez mais, o que é óptimo. No estrangeiro ficam admirados com a nossa energia e dedicação e pelo perfeccionismo”, sublinha. 

Considera que há uma “geração de grandes talentos, tanto a estudar em Portugal como no estrangeiro”. Dá o exemplo da Orquestra XXI, onde já tocou, que é formada por instrumentistas a estudar e trabalhar no estrangeiro: “Tem tido um grande sucesso. Enfim, temos jovens competentes para poder ingressar numa orquestra seja ela onde for”

Artigos sugeridos