Sandra Bastos
O trompetista Marco Silva foi admitido este mês na Academia da Ópera de Zurique, onde vai ter a oportunidade de trabalhar durante dois anos com os mais aclamados maestros e cantores líricos da actualidade. “Para mim a conquista de uma audição desta dimensão, para o lugar desta exelente academia é algo que me há-de ficar sempre no coração, pois representa um ponto de partida fora de Portugal. É para mim uma vitória conseguida, mas apenas uma das muitas restantes que desejo”, diz o jovem músico português.
Uma vitória sem segredos, mas bem preparada: “penso sempre nos ideais musicais do país e em todos os seus princípios. O facto de estarmos em contacto com alguém do país ou zona da audição é-nos benéfico, pois pode ajudar-nos em aspectos técnicos e musicais”. Aponta, como exemplo, contacto que teve, antes da prova, com o oboísta português Samuel Bastos, já efectivo na Ópera de Zurique: “Não hesitei em colocar questões deste tipo. Talvez seja um bom ponto de partida estar com alguém que tenha já absorvido grande parte do estilo musical do país ou zona de audição”.
“Infelizmente, não temos grandes oportunidades como noutros países”
A juntar-se ao número cada vez maior de portugueses que conquistam lugares em academias e orquestras no estrangeiro, Marco Silva reconhece que “nos últimos seis anos, vê-se grandes nomes da nossa nação a navegar pelas mais prestigiadas orquestras e formações a nível mundial e sempre em maior número! É sem dúvida motivante para qualquer músico deste país ver um amigo ou conhecido conseguir algo com esta grandiosidade, no estrangeiro! Somos um país muito pequeno e todos nos conhecemos tão bem. Acho que por isso mesmo, é que a evolução a nível musical tenha evoluído pouco a pouco”.
Uma evolução que não tem sido acompanhada pelas oportunidades: “Infelizmente, não temos grandes oportunidades em fazer reforços, provas de orquestra, como noutros países, o que nos leva a procurar para além das fronteiras”.
“os ideais em termos musicais são um pouco diferentes dos portugueses”
O jovem trompetista vai integrar a Ópera de Zurique, que ainda este mês recebeu, em Londres, o prémio de melhor companhia de Ópera, atribuído pela INTERNATIONAL OPERA AWARDS WINNERS 2014. “Acho que, com esta vitória, irei dar o meu melhor para que possa sempre colher frutos do trabalho, espero realmente ser sempre melhor em todos os aspectos”.
Contudo, a vida enquanto intérprete não é tudo: “Estar numa cidade como Zurique vai-me trazer complementos que não tinha em Portugal, visto que os ideais em termos musicais são um pouco diferentes dos portugueses”.
“O nível na classe de trompetes em Portugal é elevado”
Dos portugueses, tem como exemplos Carlos Leite, Mário Pinto, João Oliveira entre outros. E outros que já se encontram a trabalhar como Sérgio Pacheco, Hélder Fernandes... “O nível na classe de trompetes em Portugal é elevado, sem dúvida!”, sublinha. Porém, o problema volta colocar-se: “existem poucas orquestras e grupos para tanto nível, o que torna muito dificil uma selecção para um lugar, nem que seja de reforço”.
Apela, por isso, à união dos músicos que pode trazer a força: “Estamos num país pequeno, somos mais músicos, se nos unirmos mais, seremos mais fortes! Não é uma questão de ganhar ou perder, mas sim de desfrutar de tudo o que pudermos”.
E ter um objectivo bem definido: “não vale a pena estudarmos se o objectivo não é para ser cumprido ou se é para adiar cada vez mais”. A solução passara por arriscar, mesmo em desvantagem: “se a probabilidade de ganhar é de um em 100 por cento for o caso, devemos arriscar na mesma porque o um por cento pode fazer toda a diferença na vida”.
“todas aquelas horas de sofrimento valem a pena”
Nos momentos que fizeram a diferença na vida de Marco Silva estão a passagem pela ARTAVE, onde concluiu o Curso Instrumentista de Sopro e Percussão no ano lectivo 2009/2010: “Todo aquele ambiente de pressão, todas aquelas horas de sofrimento valem a pena”.
Destaca o empenho e dedicação do professor de Trompete, Paulo Silva: “sempre me ajudou em tudo, foi um professor que me marcou e que, sem dúvida, me fez descobrir ainda mais o gosto pelo instrumento que toco. Irá estar sempre presente na minha memória, pois sem ele, que me ensinou e partilhou ideias, estes sonhos estariam reduzidos a nada”, confessa.