Associação Portuguesa do Trombone
Novembro de 1755. A recém-inaugurada Ópera do Tejo, o orgulho nacional que deveria rivalizar com os maiores teatros da Europa, é reduzida a escombros pelo terramoto e consequentes réplicas. Com ela, também uma grande parte do nosso espólio na forma de partituras, registos e instrumentos sucumbiram à força da Natureza. Apesar dos esforços do Marquês de Pombal na reconstrução da capital, houve perdas irrecuperáveis nos registos históricos: um destino trágico para a nossa cultura, que se fragilizou ainda mais.
Quase dois séculos mais tarde, com o Estado Novo a fechar as liberdades e comunicações culturais com o exterior, os nossos artistas e a produção cultural voltam a sofrer, isolados dos acontecimentos dos cinquenta anos que se seguiram. Com a Revolução dos Cravos e a consequente abertura de Portugal à Europa, vemos sinais de mudança.
Perante um contexto de pouca fertilidade cultural, onde o ensino formal da música não era acessível à maioria da sociedade, instrumentos menos idolatrados como os de sopro de metal acabaram por não ter espaço para se desenvolverem. Talvez por esta falta de profissionais da especialidade, houve desde muito cedo a necessidade de contratar instrumentistas estrangeiros para suprimir tais faltas. Porém, ninguém poderia imaginar que a mudança de paradigma fosse tão acentuada. Vemos que hoje existe uma rede abrangente de escolas de ensino de música, com um nível invejável.
Desde que foram inauguradas as primeiras Escolas Superiores de Música em Lisboa e Porto, a 1983 e 1985 respetivamente, que houve um claro avanço no desenvolvimento musical em Portugal. Com isto não devemos assumir que o desenvolvimento do Trombone se processou em paralelo. Apesar do trabalho pioneiro de personalidades incontornáveis como o Prof. Emídio Coutinho, foi só nos anos 90 que o ensino do trombone a nível superior começou a ser ministrado (não incluímos por isso o antigo ensino no Conservatório Nacional como equivalente a estudos superiores).
Esta tardia abertura, leva a que não se tenha formado uma escola portuguesa de trombone ao longo de todo o século XIX, mas que esta se tornasse um espelho do que é a História da Música Clássica em Portugal: apesar das circunstâncias adversas para o seu desenvolvimento, os sucessos chegam na forma de uma cultura heterogénea, residindo neste ponto a sua beleza e a sua força. Não queremos com estas linhas evidenciar e valorizar personalidades do trombone em particular. Pretendemos, sim, agradecer a toda uma geração de pioneiros trombonistas e professores que, num panorama cultural sem uma História que os encorajasse, tiveram a ousadia de se aventurar e trilhar caminho para que gerações vindouras pudessem chegar mais longe.
Em cerca de 30 anos, não poderíamos estar mais orgulhosos do nível alcançado no trombone em Portugal. A oferta e qualidade formativas no nosso país fazem inveja a qualquer outro, com professores competentes em todos os níveis de ensino. Além disso, tendo em conta a falta de vagas profissionais no nosso país, os nossos músicos têm-se aventurado pela Europa com grande sucesso, sobretudo no centro europeu de língua alemã, mas não só.
Neste momento, podemos orgulhar-nos de ter representantes portugueses em grandes ensembles europeus, mas também internamente devemos regozijar-nos por termos elevado o nível dos naipes de trombone nos diversos ensembles, sejam orquestras, bandas ou outros. Consequência natural desta excelência artística são as expectativas atuais quanto ao ensino do instrumento, as quais conseguem ser atingidas devido ao alto nível dos professores que temos.
O nosso desejo é que os próximos 30 anos sejam tão promissores como os anteriores 30. Parabéns a toda a comunidade do trombone em Portugal!