Ricardo Silva

“Se não dermos importância à música e às emoções que queremos transmitir somos meros instrumentistas”

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Sandra Bastos

  • Ricardo Silva
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Conheceu a música numa banda filarmónica, estudou, batalhou e foi parar à Academia Karajan da Orquestra Filarmónica de Berlim, o auge de qualquer jovem músico. Tocou ao lado dos melhores do mundo e nas salas mais conceituadas.

Atualmente está a apostar na música de câmara, com o quinteto Veits, com quem está a fazer uma pós-graduação na Hochschule de Trossingen, na Alemanha.

De palco em palco, percebeu também que Portugal tem realizado um trabalho na Trompa “do melhor que há a nível mundial”.

 

Ser academista na academia da Orquestra Filarmónica de Berlim foi “a melhor experiência a nível profissional” que teve até hoje: “Sinto que, aconteça o que acontecer daqui para a frente, já valeu a pena todo o trabalho realizado ao longo destes anos. Acho que a Academia Karajan é uma plataforma para dar a conhecer a jovens músicos como é o dia-a-dia de uma orquestra de nível mundial, como são as pessoas, como veem a música e como a interpretam no seu instrumento. E claro, isto dá-te uma preparação muito grande para o mercado de trabalho.”

Em Berlim, Ricardo Silva aprendeu que “mesmo os melhores músicos do mundo são humanos e lidam com os mesmo problemas que todos lidamos diariamente, a dificuldade para dominar o instrumento, as imensas horas de estudo, o nervosismo em palco, o medo de falhar, etc.”

 

 

“a sorte e o orgulho” de poder partilhar esta experiência com outro português – Luís Vieira

 

Teve “a sorte e o orgulho” de poder partilhar esta experiência com outro português – Luís Vieira. É de realçar que os dois lugares de Trompa da Academia Karajan eram ocupados por portugueses, ou seja, uma situação inédita na história dos músicos portugueses. “Sempre nos fizeram sentir como “um membro da orquestra” e não simples alunos da academia. Nisso tivemos muita sorte”, sublinha.

 

Para sempre, ficam os contactos e os momentos inesquecíveis: “toda essa experiência de subir ao palco com esses músicos, as viagens e concertos nas melhores salas mundiais, o conversar diariamente e até as amizades criadas com muitos deles, são coisas que ficarão para a vida”.

 

 

“Ao nível do ensino, Portugal faz já um trabalho excecional a nível mundial, especialmente na formação de jovens músicos”

 

Também em Berlim, fez o mestrado na Hochschule für Musik “Hanns Eisler”, na classe de Marie Luise Neunecker, depois de se ter licenciado na ESMAE, com Bohdan Sebestik e Abel Pereira. “Ao nível do ensino, Portugal faz já um trabalho excecional a nível mundial, especialmente na formação de jovens músicos. Somos um povo muito emotivo, pelas nossas raízes e culturas e isso reflete-se de forma super positiva na qualidade dos músicos portugueses”, afirma.

 

Foi na Alemanha que teve a oportunidade de tocar um ano como 1º Trompa na Staatsoper de Hannover e, posteriormente, na Staatsorchester de Kasse, onde esteve até dezembro passado.  “Foram claro, grandes experiências, sobretudo porque eu adoro ópera e a forma como as orquestras de ópera trabalham na Alemanha: muitas produções e excelentes músicos e maestros”, destaca.

 

 

“Se não dermos importância à música e às emoções que queremos transmitir somos meros instrumentistas”

 

Sente-se mais motivado ao fazer música de câmara, “de poder tocar em conjunto, comunicar no palco com outros músicos”. Considera fundamental “a capacidade de saber ouvir e ter a destreza de compreender e adaptar-se a diferentes estilos”, não descurando, claro, “uma boa formação” a nível técnico: “Se não dermos importância à música e às emoções que queremos transmitir somos meros instrumentistas”.

 

Está a realizar o sonho de ter um grupo de música de câmara de “alto nível” com o Veits Quintet, um quinteto de sopros composto por amigos de três nacionalidades diferentes: “Tenho a imensa sorte de poder partilhar o palco com estes músicos e as experiências que passámos juntos foram e estão a ser incríveis”.

 

 

“se não fosse pela música nunca seria a pessoa que sou hoje”

 

À semelhança de muitos músicos, Ricardo Silva iniciou os seus estudos musicais numa filarmónica. Na Banda Visconde Salreu (Aveiro), criou amizades e aprendeu também valores e princípios humanos: “Embora já não toque com a Banda há uns bons anos, sinto que sou sempre bem-vindo à instituição e às vezes faço uma visita quando venho a Portugal”.

 

Não obstante “as imensas horas de estudo” que privam de “muita coisa”, confessa que “com boa energia e vontade consegue-se fazer tudo na mesma”. E dá exemplos: “Sempre consegui sair com os amigos, fazer desporto, tudo o que os meus amigos não músicos faziam. Claro que a vida é muito mais stressante, mas as compensações que tive até hoje são únicas: as viagens que fiz, os palcos onde toquei, as pessoas e as culturas que conheci, etc. Enfim, se não fosse pela música nunca seria a pessoa que sou hoje”.

 

 

“Todos temos que estar orgulhosos pela grandeza do panorama da Trompa em Portugal”

 

Em Portugal, toca com a Orquestra XXI, “não só pelo que representa, mas também pela qualidade humana e artística dos seus membros”. Defende que “tocar com grandes músicos é muito bom, mas se para além de grandes músicos forem grandes amigos, é uma sensação incrível.”

 

Sobre o desenvolvimento da classe da Trompa não tem dúvidas: “Todos temos que estar orgulhosos pela grandeza do panorama da Trompa em Portugal, que tem realizado um trabalho do melhor que há a nível mundial”. E aponta os resultados: “Temos, por exemplo, o Abel Pereira, um trompista que realiza uma carreira brilhante pelos Estados Unidos, que, além de referência pessoal, é neste momento uma referência mundial. Temos trompistas a ser premiados em concursos internacionais do mais alto nível, temos constantemente trompistas portugueses em todas as orquestras juvenis europeias e mundiais e nas melhores academias de orquestra. E para não falar do nível dos excelentes trompistas que trabalham em Portugal que teriam condições para competir com os melhores lá fora”.

 

 

“uma geração empreendedora e com vontade de lutar por aquilo que sonha”

 

Descreve a sua geração de músicos como “uma geração empreendedora e com vontade de lutar por aquilo que sonha”. Louva o sacrifício dos que saem de Portugal para “ampliarem os seus conhecimentos e tentarem algo diferente na vida”. E louva os que ficam cá e lutam com “projetos ambiciosos”: “Dou muito valor àqueles que trabalham para o meio musical em Portugal. A qualquer um digo para não ter medo de arriscar, de ir atrás daquilo que nos faz felizes.”

 

Lamenta “a corrupção, abuso de poder e a má gestão que travam a evolução artística”, mas acredita que em Portugal estão a ser feitos “grandes esforços no sentido de se melhorar as condições de trabalho de músicos e professores.”

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