Sandra Bastos
Com apenas 20 anos, Rui Miguel Marques foi nomeado Maestro Assistente da Stavanger Symphony Orchestra, na Noruega, em janeiro deste ano. Está a estudar Direção de Orquestra com Andris Poga em Oslo e acredita que é o trabalho de todos os dias que o levará a mais oportunidades.
Do Piano à Direção de Orquestra
Começou a estar piano aos 4 anos de idade, com a professora Klara Dolyany com apenas 4 anos. A paixão pela direção surgiu mais tarde, aos 13 anos, durante um projeto de escola, em que a turma tinha de tocar uma obra com os instrumentos disponíveis: “Foi necessário um arranjo de alguma obra para as condições que tínhamos. Prontamente, voluntariei-me para o fazer, mesmo que nunca o tivesse feito antes”. Durante os ensaios, percebeu-se a necessidade de um maestro. “Sem grandes conhecimentos, aceitei o desafio da professora Marta Falcão, que se disponibilizou para me ajudar antes desse concerto. E assim foi, uma primeira performance que deixou a curiosidade e o gosto por mais”, conta.
Após este projeto, Rui Miguel Marques juntou os amigos e criou mais oportunidades para dirigir. Teve aulas com o professor Alexandre Madeira, que colocou a orquestra da escola à sua disposição.
Aos 15 anos, contactou o maestro britânico Timothy Henty, que iria fazer um concerto em Lisboa. “Sem grandes expectativas, apenas deixei um email ingénuo e simpático sobre um concerto, no ano anterior, onde o tinha visto a dirigir”, confessa. Assim, um ano mais tarde, estava a estudar com Timothy Henty.
Maestro Assistente da Stavanger Symphony Orchestra, na Noruega
Começou em janeiro deste ano o seu trabalho como Maestro Assistente da Stavanger Symphony Orchestra, na Noruega. Até ao momento, “tem sido uma experiência muitíssimo enriquecedora”, em que tem trabalhado com excelentes músicos, maestros e solistas.
Para Rui Miguel Marques, “a Orquestra Sinfónica de Stavanger é, possivelmente, uma das orquestras mais simpáticas” com quem já trabalhou. “Todos os músicos têm-me acolhido extremamente bem e estão sempre dispostos a ouvir as minhas sugestões”, explica.
O trabalho com o Maestro Andris Poga
A maior parte do seu trabalho é com o maestro-titular da orquestra, Andris Poga, com o qual tem aprendido muito, devido “à sua extensiva experiência” com as maiores orquestras do mundo. “É uma pessoa muito aberta às minhas ideias e sugestões e com a qual tem sido um prazer trabalhar”, sublinha.
Desde janeiro, a sua agenda está preenchida com o trabalho na orquestra, o curso de Direção de Orquestra em Oslo e concertos noutros países. E já tem muitos eventos marcados para 2026!
“uma das melhores universidades para direção de orquestra na Europa”
A escolha de Oslo para estudar Direção de Orquestra deveu-se ao seu prestígio, por ser, na sua opinião, “uma das melhores universidades para direção de orquestra na Europa. Está no “top 3” no que concerne a tempo de pódio durante os estudos”.
O jovem maestro considera que, tal como um instrumentista, um maestro também precisa de tempo com o seu instrumento, a orquestra, para evoluir”. Contudo, “é um investimento muito custoso da parte das universidades para ter um programa com bastante tempo de pódio”.
A escolha do professor Ole KrisLan Ruud
A escolha do professor também pesou na sua decisão: “Penso que o Prof. Ole KrisLan Ruud é dos professores mais experientes na Europa, pois para além de ensinar há mais de 25 anos, também teve uma carreira de topo”.
Os dois anos de estudo que tem com o professor Ole KrisLan Ruud mostraram-lhe que, além de ter um excelente mestre, também estuda também com uma excelente pessoa – “alguém extremamente simpático, bondoso e sempre a tentar ajudar os seus alunos a terem sucesso neste mundo difícil da Direção”.
Oslo tornou-se a escolha perfeita também por outras facilidades: “todo o curso é em inglês e é grátis”.
“as grandes estrelas são tal como todos nós”
Ao longo da sua ainda curtíssima carreira, Rui Miguel Marques destaca o momento em que dirigiu Leif Ove Andsnes, no 3° concerto de Rachmaninoff com a Orquestra Filarmónica de Bergen. “Para alguém com a sua carreira, o Leif Ove é alguém bastante simples, extremamente simpático e boa pessoa. Fiquei bastante espantado, pois foi a primeira pessoa com uma carreira deste calibre com quem tive a oportunidade de trabalhar. Foi muito interessante perceber que mesmo as grandes estrelas são tal como todos nós”, conta.
Destaco também o trabalho com Alexandre Malofeev, Boris Giltberg, Stefan Dohr, Edward Gardner, Thierry Fischer, Javier Perianes e Jean-Guihen Queyras.
A inspiração de Bernard Haitink e Carlos Kleiber
As suas grandes inspirações na Direção de Orquestra são Bernard Haitink e Carlos Kleiber. “Bernard Haitink - um músico e maestro exímio, que convencia a orquestra com os movimentos mais conservadores possível, ou seja, por outras palavras, nada de exageros nem espetáculos para o público, apenas aquilo que era extremamente necessário para a música e para a orquestra. Tecnicamente, considero-o um dos melhores maestros de sempre”, sublinha.
“Carlos Kleiber - o seu trabalho do som e cores com todas as orquestras com que trabalhou é incrível. Kleiber era também um maestro que escolhia o repertório a dedo, só dirigia obras sobre as quais tinha uma forte interpretação e eu penso que isto contribui para o altíssimo nível de música que fazia”, acrescenta.
Os exemplos de Klaus Mäkela e Timothy Henty
Na atualidade, realça o trabalho de Klaus Mäkela, “não só pela sua idade, mas pela sua paixão e energia”. Tem tido a oportunidade de assistir aos seus ensaios regularmente no sentido de aprender “como gerir um ensaio da forma mais eficaz, interessante e musical possível.”
Timothy Henty, o seu antigo professor, continua a sua um exemplo: “é dos maestros com uma fundação técnica mais sólida, clara e precisa que conheço.”
“gosto mais de pensar no presente e ser sempre realista”
Não obstante o seu enorme sucesso, o jovem maestro prefere não criar expectativas irrealistas: “gosto mais de pensar no presente e ser sempre realista, por isso, acho que fazendo um bom trabalho todos os dias levar-me-á a mais oportunidades (por vezes inesperadas), tal como tem acontecido até agora.” No entanto, confessa que gostaria de dirigir com mais frequência no seu país, em Portugal
E apesar de ser muito jovem, Rui Miguel Marques acredita que os músicos “devem seguir sempre os sonhos e ambições”, mas “com muita força de vontade para fazer com que estes aconteçam e se tornem realidade”.
“Claro que o fator sorte também existe, mas acredito cada vez mais que devemos ser pró-ativos, no sentido de conhecer pessoas, escrever para orquestras/salas/programadores e inscrever-nos em competições, masterclasses, trabalhos. Só assim surgem as oportunidades!!”, acrescenta.
Rui Miguel Marques
O jovem maestro português, Rui Miguel Marques, foi recentemente nomeado Maestro Assistente da Stavanger Symphony Orchestra, com efeito a partir de janeiro de 2025. Neste cargo, tem trabalhado com o Maestro Titular, Andris Poga, bem como com vários maestros convidados.
O jovem de 20 anos encontra-se atualmente a estudar na Norwegian Academy of Music, em Oslo, sob a orientação do Prof. Ole Kristian Ruud, como parte da sua licenciatura em Direção de Orquestra.
Desde fevereiro de 2024, Rui faz parte do Dirigentforum Junior – programa elite da Talent Norge e Dirigentløfltet para jovens maestros. Ao integrar este programa, Rui já trabalhou com a Bergen Philharmonic Orchestra e a Orkester, e participou em masterclasses com Johannes Schlaefli, Wolfram Christ, Stefan Dohr, Eivind Aadland e Alf Årdal. Durantes estas sessões, Marques teve a possibilidade de trabalhar com solistas como Leif Ove Andsnes, Amalie Stalheim, Miriam Helms Ålien e Sophie Kauer.
Durante os seus estudos, Rui trabalhou com várias orquestras de todo o mundo, tais como: Kecskemet Symphony Orchestra, Sinfonietta Dresden, Berlin Sinfonietta, The Royal Norwegian Navy Band, The Harstad Norwegian Army Band, The Staff Band of the Norwegian Armed Forces, Alumni Symphony Orchestra Zürich, Orquestra da Costa Atlântica, Orquestra Clássica do Centro e Alto Minho Youth Orchestra.
Recentemente, Marques dirigiu uma performance esgotada da ópera Nabucco de Verdi, no J.K. Tyla Theatre na República Checa.
Foi, também, convidado como Guest Conductor para o FIPOG (Festival Internacional de Piano e Orquestra de Guadalajara), com a West Mexico Symphony Orchestra no Teatro Degollado (México), onde Marques partilhou o palco com solistas como Bernardo Santos, Diogo Caetano e Patrick Orr.
Durante os últimos anos, Rui participou em masterclasses com Jorma Panula, Johannes Schlaefli, Nicólas Pasquet, Neil Thomson, Howard Williams, Edward Gardner, Colin Metters, Nuno Coelho, Tabita Berglund, John Farrer e Cesário Costa.
Antes dos seus estudos na Noruega, Rui estudou, durante quatro anos, com o maestro britânico Timothy Henty e, anteriormente, com o maestro português Alexandre Madeira e com a maestrina Marta Falcão.